O lobo de Wall Street
Dinheiro, sexo e drogas. Tudo isso povoa o novo filme de Scorsese, o Lobo de Wall Street. Ele cria um filme com a narrativa em off do protagonista Jordan Belfort, um sujeito que ingressa no mundo financeiro como corretor da Bolsa de Nova York e vive uma vida apaixonada pelo dinheiro e poder. Ele cria uma empresa audaciosa e passa a lidar com milhões, numa vida vertiginosa de pura ascensão e tanta euforia e absurda riqueza que Belfort se encontra engolido pela máquina financeira que representa Wall Street.
Belfort é um lobo que consegue contornar os caminhos e chegar ao topo. Consegue mais do que o seu primeiro patrão (Matthew McConaughey), que dá as primeiras dicas para ingressar nesse mundo sem volta e faz ecoar uma cantoria que tem grande significado no filme. O ritmo que ele produz na percussão corporal (sim, parece confuso, mas o personagem de Matthew começa a entoar uma espécie de canção num restaurante) se torna a inspiração praticamente interna de Belfort, o seu combustível nessa vida alucinada. Vamos observando que ela se propaga em massa. Belfort conquista a alma de seus funcionários, faz o seu sonho por dinheiro e poder residir nessas vidas.
O mais curioso, porém, é que o personagem não pode ser posto somente como um aproveitador ou riquinho ambicioso. De certa forma, ele cedeu emprego a várias pessoas que estavam endividadas, foi quase um Robin Wood, como o filme cita. Ele constrói um império que ama mais do que a própria vida e desistir dele pareceria o mesmo que jogar no lixo a vida de seus funcionários. Por isso, Belfort cresce no filme como um personagem de várias faces.
Scorsese faz, primeiramente, uma edição de qualidade invejável. O filme tem a estrutura dos documentários que por vezes vemos das narrativas de grandes pessoas de sucesso contando sua trajetória. Nunca perde o ritmo, nunca há desânimo, perda, tristeza. A vida de Belfort é elevada à enésima potência tanto no enredo quanto na representação dele por Scorsese. São 3 horas de filme que atropelam – num bom sentido – o espectador, que se sente entorpecido e agitado como Belfort, querendo muito mais.
O roteiro surpreende pela irreverência e comicidade. Mas quem consegue dar uma vida descomunal ao personagem é Leonardo DiCaprio. Ele produz os mais inúmeros gestos, dança freneticamente, faz caretas debochadas, entoa discursos que leva a sério, ele é Jordan Belfort. Um personagem cínico que poderia provocar até certo desprezo e raiva naqueles que desejariam a mesma vida acaba por nos conquistar.
É certo que o ritmo alucinado é metalinguístico, pois zomba da própria forma e da vida do personagem em questão. Tudo é tão fictício, exagerado, esfregado na tela, que consegue a proeza de trazer um humor e uma leveza muito espontâneos e dá espaço para o desenvolvimento de DiCaprio. A fotografia é de tirar o fôlego propositalmente, os corpos das mulheres nuas e as drogas consumidas já estão tão presentes no filme que nem produzem mais o choque no espectador. É desse jeito que Scorsese, então, acaba por mostrar a sua mensagem: estamos imersos na vida de Wall Street junto com Belfort ao ponto de nem notarmos mais os exageros e um fracasso iminente. Uma hora a coisa tem que dar errado, nos ocorre. E o filme vai crescendo aos nossos olhos.
O Lobo de Wall Street é uma aula pertinente sobre direção cinematográfica e como deixar uma atuação fluir a ponto de fazer o personagem saltar da tela. Apesar desse ritmo frenético, o filme possui equilíbrio e sabe bem como explorar os seus pontos. Assim, essa é mais uma obra bem sucedida de Scorsese e a promessa do tão esperado Oscar ao desempenho de Leonardo DiCaprio.
Marina Franconeti Ver tudo
Escritora e mestranda na USP em Filosofia, na área de Estética, pesquisando Manet e o feminino. Ama pintar aquarelas, descobrir a magia oculta nas tintas e na prosa do mundo.
Você está sendo meu guia. Vou ver esse filme amanhã. Valeu pela motivação
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Espero que goste! O lobo ficou entre meus favoritos. Abraços e obrigada por comentar!
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