Bebida consagrada
Hoje é o dia internacional da poesia! Deixo, então, aqui um poema que nasceu nos jardins de Renoir, em Montmartre, em um calor que colocava o inferno ao lado da Basílica de Sacré Coeur, mas que foi um dia mundano abençoado pelos sinos da basílica e um suco muito bem-vindo. As imagens são do jardim de Renoir, no Musée Montmartre, e um céu amarelo em pleno inverno.
A beleza é o belo no gole
Que se demora
Em um tempo interno,
Tempo que não se consome,
Que suspira, vai embora
E fica em gosto, timbrado de outrora.
Depois do gole, o gosto único
De provar o instante em amarelo,
Com os sinos abençoando
O instante eterno.
Deixe que o copo derrame,
Pouco a pouco,
De suas mãos
O amarelo do suco
Que antes era só suco.
Mas nas suas mãos
Ganha ar de puro ouro
Consagrado pelos céus
Após um calor infernal.
Um amarelo que vem doce, no verão,
Como que capaz de tocar o rosto
Com a crueldade dos anjos.
Ah, vocês verão,
Pintar no céu um dourado resistente
De gosto invernal.
Como que surpresa da vida contínua.
Íntegra doçura que ainda se guarda
Ah, tal bebida ambígua,
Em gesto mundano
O mundo modifica.
Calor na negatividade dos ventos.
Se antes a tarde
Era feita de calor,
Suor e estupor,
Agora em festio virou
A mais célebre canção
Sussurrada nos meus dias
De inverno seco,
Esperança no chão.
E os sinos,
Que só tocam em vida sagrada,
De uma torre regrada,
Abençoam sua vida
De bebida dourada,
Em forma da mais pura poesia
Digna liquidez em ambrosia.
créditos de imagem: Marina Franconeti
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Marina Franconeti Ver tudo
Escritora e mestranda na USP em Filosofia, na área de Estética, pesquisando Manet e o feminino. Ama pintar aquarelas, descobrir a magia oculta nas tintas e na prosa do mundo.
Gostei muito Papai
Date: Mon, 21 Mar 2016 16:18:29 +0000 To: franconeti@hotmail.com
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Que sensível e subjetivo esse poema! Gostei bastante.
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Muito obrigada, Bianca 😀
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